Meninos e meninas em situação de rua e a cultura de sobrevivência na região central de São Paulo

Autor: Ataíde França
Ano da Defesa
2019

Resumo

Na primeira parte deste trabalho, desenvolvemos uma breve reflexão acerca de fatores históricos que classificamos como responsáveis pelo surgimento deste grupo social: meninas e meninos em situação de rua (aqui, especificamente, os que vivem na região central da capital do Estado de São Paulo). Fazemos uma análise de como a política segregadora, racista e violenta implantada no Brasil desde o período colonial fomentou o não desenvolvimento social e econômico de homens e mulheres, de ampla maioria negra, arrancados de suas terras na África e aqui escravizados por quase quatrocentos anos, desprovidos de qualquer política que lhes proporcionasse minimamente a cidadania, o direito à terra, a educação. Em seguida, um questionamento. Por que o centro? Analisamos as possibilidades de sobrevivência na área central da capital de São Paulo e os fatores que colaboram para esse êxodo, uma vez que a periferia já conta com uma gama de serviços e um fluxo de pessoas, ambos bem relevantes. As relações entre as instituições de Direitos Humanos de crianças e adolescentes também foram aqui brevemente analisadas. Para tanto, visitamos essas instituições para entender como se dá a relação entre elas e as meninas e meninos em situação de rua, na área administrada politicamente pela Subprefeitura da Sé. Durante as visitas, realizamos uma conversa para saber um pouco de cada organização e participamos de atividades que nos proporcionaram um bom diálogo com alguns adolescentes. Aqueles com quem conseguimos contato relataram um pouco das suas histórias de vida na família e na rua. Por fim, refletimos sobre o preço dessa liberdade e sobre os encantos e desencantos da vida na rua. A violência urbana, que conversa diretamente com a família e que deixa sequelas tão fortes quanto as deixadas pelo processo histórico, ainda insiste em afirmar o que diz a música de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Wilson Capelette (1998): “a carne mais barata do mercado é a carne negra.”