A Cobertura de Políticas Públicas para Cultura no Caderno Ilustrada, do Jornal Folha de São Paulo

Por Luis Matos

Neste trabalho, o autor Duanne de Oliveira Ribeiro propõe uma análise de como as políticas publicas para a cultura são abordadas no Jornal Folha de São Paulo, no seu Caderno 'Ilustrada'. Cerca de 200 artigos, entre os anos de 2001 e 2004 (recorte escolhido referente à gestão da Prefeita Marta Suplicy na cidade de São Paulo), foram analisados a partir de cinco eixos temáticos que estruturam o trabalho realizado: Artes; Estado X Mercado; Financiamento da Cultura; Diversidade Cultural; Inclusão Cultural e/ou Social.

Para familiarizar o leitor com o  tema, o autor apresenta os conceitos básicos sobre três tópicos abordados inicialmente: jornalismo cultural e as definições especificas de cultura adotadas: a dimensão antropológica e a dimensão sociológica  de cultura; sobre o que seria a função social do jornalismo; e sobre definições de política publica.

Os artigos foram selecionados  a partir da palavra chave política cultural no acervo online da Folha de São Paulo , tendo como filtro o caderno Ilustrada do referido jornal. Os cinco eixos temáticos foram abordados separadamente  de maneira que o leitor possa elaborar uma reflexão sobre a cobertura dada ao campo das políticas culturais.

No tópico Artes as áreas de expressão majoritariamente contempladas são: cinema, teatro, musica, audiovisual (cinema e televisão), literatura e artes visuais. Outras áreas de expressão são minimamente citadas, como por exemplo: dança, games, óperas, fotografia etc. Na análise do autor, essa realidade é dada por uma hegemonia  proporcionada ou pelo Estado ou por interesses do mercado. Áreas favorecidas por políticas de financiamento  ou por políticas de inclusão social e cultural.

No item Estado versus Mercado o tema ganha relevância nos artigos analisados, seja pela chegada ao Ministério da Cultura  do cantor Gilberto Gil (com a eleição presidencial  de Luis Inácio Lula da Silva, em 2002), seja pela polarização entre as visões dicotômicas entre os secretários municipais de cultura do Rio de Janeiro e de São Paulo quanto a maior ou menor intervenção do Estado no campo cultural. A partir dos artigos analisados nesse  tópico, o autor indaga se o jornal Folha de São Paulo adota uma posição política, deixando de lado sua imparcialidade , ao abordar negativamente os termos ligados à presença “ameaçadora” do Estado na cultura e “favorecendo” os temos relativos à presença do Mercado no dirigismo cultural, nas três esferas do poder. O leitor, aqui, não é convidado a pensar mas sim, a se acomodar com a polaridade criada entre Estado versus Mercado nos editoriais publicados.

Sobre  o Financiamento da Cultura o debate se instaura , segundo o autor, em torno das leis de incentivo via renuncia fiscal. Questões de “quem financia; como se financia ; se o financiador não pode prejudicar, por seu poder de decisão, o objetivo próprio da política publica cultural”, são colocadas  para reflexão, tanto para os defensores da presença de mais Estado, quanto dos defensores do mais mercado , na cultura. Nas reportagens analisadas está presente a defesa no uso do incentivo fiscal nas políticas públicas em cultura. Uma linha de abordagem “equilibrada” entre os dois pólos Estado X Mercado procura dar o tom, ao ponderar que em ambos os pólos há vícios: engessamento do aparelho estatal X uma “promiscuidade” mercantil, mas um viés pela “defesa do mercado” transparece nos textos abordados.

No tema Diversidade Cultural o autor aponta alguns textos em que a citação ao tema é feita diretamente através das “falas” dos representantes municipais de cultura do eixo Rio - SP. A forma como essas falas passam à redação dos artigos, pelo acento dado ao uso de determinados verbos, mostraria  a separação de blocos estanques entre o que seria manifestações de cultura erudita e popular no conceito jornalístico. Entretanto, a análise de trechos de entrevistas citadas,tenta demonstrar como uma idéia de homogeneidade cultural é criada à medida em que se aproximam gostos culturais diversos, atribuindo-lhes o mesmo peso de importância no cenário cultural. Para que uma política cultural com essa abordagem seja criada há a necessidade de se investir na formação de públicos.

A temática Inclusão Cultural e/ou Social tem uma presença preponderante nos artigos analisados. Tanto aos gestores culturais à  época, quanto aos candidatos presidenciáveis, a questão da inclusão cultural (definida como “democratização do acesso aos bens culturais); quanto a inclusão social (entendida como o uso da cultura como um meio para a melhoria das condições de vida do cidadão), são colocadas de maneira a obter mais claramente possível uma definição precisa do modelo de gestão adotado ou a ser adotado, que contemple amplamente esses temas. Ora apontada como um direito, ora como um instrumento, as diversas “falas” citadas adotam a inclusão como um ponto de partida ao definirem o modelo de política cultural que será praticada nos diversos níveis da federação.

Nas considerações finais da pesquisa, realizada por Duanne Ribeiro, outros temas relevantes são abordados nos artigos analisados, como por exemplo a relação entre política cultural e política educacional , bem como entre cultura e políticas públicas para a segurança. Cabe ressaltar que o viés do pensamento da cultura como algo utilitário, como um instrumento para algo está presente no discurso jornalístico.

Segundo o autor, o objetivo do estudo não é o debate sobre os temas que aparecem nos artigos selecionados na Ilustrada, mas sim, como o pensamento do leitor é condicionado a partir do tratamento dado aos temas e como estes são abordados.

O autor apresenta os limites da abordagem da cobertura jornalística, condicionada pelas escolhas ideológicas e de mercado que o caderno Ilustrada adota. Deixa uma reflexão sobre os limites dessas escolhas para uma cobertura ampla em políticas públicas para a cultura.  O que está para além desses limites? O que fica invisível para o leitor? Que outras possíveis abordagens e temas ficam “de fora” ? E como as escolhas feitas condicionam o leitor sobre uma visão enviesada das políticas públicas para a cultura, na medida em que esse leitor  tende a ter uma visão parcial e previamente “direcionada” pelo recorte dado por esse meio de comunicação? São algumas das questões que o autor propõem ao leitor  a partir de uma leitura critica de como a mídia jornalística aborda o tema das políticas publicas para a cultura.

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