HIV/Aids e narrativas pós-coquetel na poesia contemporânea brasileira

  Autor: Leandro Noronha da Fonseca, formado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Nove de Julho e especializado em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo.

  Orientador:  Prof. Dr. Dennis de Oliveira

 

  A pesquisa “HIV/Aids e narrativas pós-coquetel na poesia contemporânea brasileira” é uma análise realizada para o curso de  especialização Mídia, Informação e Cultura (2019) que busca abordar o tema baseado na obra “Tente entender o que tento dizer”,  organizado pelo jornalista e ativista Ramon Nunes Mello, foi publicada em 2018 pela editora Bazar, sendo curioso o fato de que é primeira vez, no Brasil, que há uma publicação de um livro dedicado exclusivamente ao assunto. Portanto, busca compreender como o HIV/Aids está sendo tratado na arte, principalmente na literatura e no cinema.

 

  Para o seu desenvolvimento, a pesquisa trata de um panorama geral do HIV/Aids que desde 1970 está presente em diferentes casos inseridos através de um contexto de fragilidade da saúde pública. No Brasil, desde 1980 até 2016, o total de mortes registradas por essa síndrome de imunodeficiência adquirida é de e 316.088, sendo que os aspectos sociais e econômicos fazem parte desse processo, impactando nessa taxa de mortalidade.

 

 

  Durante as primeiras décadas, não se tinha o avanço científico suficiente para obter mais informações dos tratamentos de combate à essa epidemia, isso se justifica pelo fato de que havia um forte cunho moral e preconceituoso, visto que o perfil das pessoas atingidas pela doença era composto por moradores de grandes cidades, gays, elitizados e sexualmente ativos, tendo sido assim encarada como “doença da elite”.

 

  Atualmente, a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids, criada em 1989 pelo Estado e a sociedade civil, assegura o direito à assistência e ao tratamento, inclusive, a Lei. A Lei nº 12.984, sancionada em 2014, que pune qualquer ato discriminatório para com essas pessoas em decorrência de sua condição sorológica. Além disso, a população soropositiva tem acesso ao tratamento gratuito, em decorrência da conquista de um forte ativismo. Para isso, a terapia antirretroviral (TARV) é composta por medicações que proporcionam melhor qualidade de vida às pessoas que vivem com HIV/Aids, sendo ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 1996.

 

  Outro ponto importante e essencial a ser destacado é a era do pós-coquetel, porém, se existe essa fase, também há antes disso a era “pré-coquetel”, ou seja, é o cenário de altos índices de adoecimento e a ausência de tratamento avançado, surgindo então dúvidas e questionamentos. Entretanto, a imprensa da época passou a anunciar sobre o HIV/Aids antes mesmo antes de ser estatisticamente significativo no Brasil, fazendo com que virasse notícia, visto que a doença já se alastrava no exterior, resultando no espaço da temática dentro do âmbito da comunicação e vida cotidiana das pessoas.

 

  Através da influência da ciência e da medicina, os próprios veículos jornalísticos desempenharam uma função nos discursos sobre as pessoas vivendo com HIV/Aids, influenciando no campo das relações sociais, comunicação e arte. Essa relação da comunicação, arte e narrativas do pós-coquetel tratam dos temas que são considerados “tabus” pela sociedade e a comunidade médica, pois embora o jornalismo busca trabalhar com a neutralidade, colocam os profissionais longe do imaginado.

 

  Sendo assim, as notícias são produtos culturais que geram conhecimento, todavia as produções deveriam ser vistas como construtoras da realidade e não apenas a descrição de acontecimento. A pesquisa, portanto, busca trazer a questão de como a Aids foi tratada pela mídia (televisão, rádio, jornais e revistas) e seu discurso homofóbico, além de especulações e boatos por parte da imprensa sobre pessoas públicas.

 

   O trabalho explica que nas produções artísticas, a temática que envolve o HIV/Aids passou por mudanças, devido ao avanço dos tratamentos e o aumento da expectativa de vida. “Na contemporaneidade o viver com HIV se torna presente”, esse é o discurso que para Sousa (2016), é chamado de narrativa pós-coquetel, conceito fundamental da pesquisa, que aborda a existência das narrativas pós-coquetel na literatura e cinema, por meio de características que essenciais que ajudaram a compreender o livro “Tente entender o que tento dizer”.

 

  O autor considera que essas narrativas retratam de forma mais consonante o contexto histórico e social a questão do HIV/Aids, bem como continuará fazendo parte de tema de filme, instalações artísticas, performances, espetáculos teatrais e de dança, sendo necessário dar continuidade aos estudos tematizados em produções futuras e dentro desse cenário político brasileiro, visto que as pessoas socialmente e culturalmente marginalizadas podem ser afetadas.

 

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