Elza Soares do Cóccix até o Pescoço: Um Enunciado de Luta e Resistência

O presente artigo apreende as circunstâncias da produção de Do cóccix até o pescoço, álbum lançado em 2002, por Elza Soares (1930-2022) e, especialmente, sua conexão com o documentário Ôrí, de Raquel Gerber, com texto de Maria Beatriz do Nascimento (1989). A questão que norteia o estudo é: como uma mulher negra e periférica atravessa sete décadas com incontáveis perdas pessoais, chega à velhice impondo frescor artístico ao seu trabalho e é “descoberta” pelos mais jovens como símbolo de luta e resistência? Na busca de resposta a essa questão, o conceito de quilombo trazido por Beatriz Nascimento e descrito em Ôrí (1989) é crucial, vez que permite alcançar a compreensão do existir e do resistir negros na luta antirracista em um país com mais de 300 anos de escravidão. A partir da trajetória da artista e da sua criação artística, os aspectos interseccionais de raça, sexualidade e gênero surgem inevitavelmente. Some-se ao aporte teórico as entrevistas realizadas com os produtores musicais do álbum Alexandre Siqueira e José Miguel Wisnik.