A Universidade Federal de Minas Gerais foi invadida por policiais federais na quarta-feira, dia 6 de dezembro, que conduziram coercitivamente o reitor e a vice-reitora da instituição para prestar depoimentos em um estranho processo que apura irregularidades na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil. O procedimento da PF é uma repetição das ações arbitrárias realizadas contra o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina que, diante do linchamento e execração pública da sua imagem, acabou se suicidando, com ex-presidente Lula em 2016 e com o jornalista Eduardo Guimarães. Por que arbitrária? Porque conduções coercitivas só são admitidas quando os convocados se recusam a comparecer para depor, o que não ocorreu em nenhum dos casos. Conduções coercitivas como procedimentos padrões são atitudes típicas de regimes ditatoriais.
A operação da PF na UFMG é chamada de “Bêbado e Equilibrista”, fazendo alusão a bela música de João Bosco e Aldir Blanc cuja letra faz referência a luta contra a ditadura militar.
Movimentos conservadores que querem intervir na autonomia de cátedra dos professores, querem impor uma visão única de relações étnicas e de gênero, impor uma narrativa historiográfica oficial é chamada de “Escola de Sem Partido”.
Meios de comunicação que ingressaram de cabeça em um jornalismo de campanha, cujo discurso denuncista claramente aponta para determinadas forças políticas, que abertamente defendem uma perspectiva política econômica, que ignoram atrocidades na Somália e na Líbia, mas dão enorme destaque quando tragédias ocorrem em países da Europa ou Estados Unidos, dizem praticar um “jornalismo neutro e imparcial”.
Comunicadores que usam do privilégio de ter espaço nos meios de comunicação para propagar suas vozes – por meio de programas pretensamente humorísticos, de entretenimento, jornalísticos, ou outros – para disseminar preconceitos raciais e de gênero dizem estar exercendo a “liberdade de expressão”.
Promotores que usam seus cargos para se autopromoverem, juízes que condenam com base meramente em delações de outros condenados e selecionam provas de acordo com suas convicções dizem estar “praticando a Justiça”.
George Orwell no romance “1984” falava da Novilíngua cujo princípio era reinventar os sentidos invertendo suas dimensões valorativas. Assim, as ações de ódio eram atitudes do Ministério do Amor; pessoas assassinadas ou desaparecidas eram “impessoas”, pessoas ortodoxas eram “bempensantes”...
Não foi em 1984 e nem o mundo distópico autoritário imaginado por Orwell. A novilíngua está presente nos que realizam o golpe em 2016/17 no Brasil.